domingo, 24 de março de 2013

Crédito bancário, e investimento. ("Ponto de vista" semanal de Luís Costa Correia) - 24.03.2013.


Crédito bancário, e investimento.

Parece haver opiniões discordantes sobre a existência em Portugal de crédito bancário para empresas não financeiras, pois enquanto do lado da Banca tem vindo a ser afirmado que não só existe solidez como também disponibilidades financeiras, mas que faltam projectos empresariais que justifiquem a concessão de empréstimos que permitam esgotar a capacidade dos Bancos, já sob o ponto de vista empresarial ouve-se o contrário, nomeadamente invocando-se que as taxas de juro requeridas são incomportáveis.

Esta última alegação é por seu turno contestada pelo sector bancário, que refere que as taxas reais praticadas se situam em valores que embora não sejam baixos não se afastam da média em termos históricos.

Contudo por outro lado é do conhecimento público que o BPN e o BPP se "afundaram", com elevados custos para os cidadãos, e que houve Bancos que tiveram que recorrer aos financiamentos disponíveis no quadro do Programa de Assistência Financeira a Portugal, tendo inclusivamente quanto a um deles as acções em Bolsa descido para valores irrisórios.

Entretanto parece haver consenso no nosso País em que para se atingir antes de 2040 um nível de dívida pública da ordem dos 60% do Produto Interno Bruto (PIB) haverá que renegociar os juros dos empréstimos concedidos à República, e que obter taxas de crescimento no mínimo da ordem dos 3% anuais, para o que seria necessário que o sector exportador crescesse acentuadamente e que ao mesmo tempo o tecido empresarial também se ajustasse à criação de produtos que no mercado interno contribuíssem para a redução de importações - todas estas disposições permitindo fazer recuar o desemprego e a emigração que, conjuntamente com o decréscimo da natalidade e o aumento da longevidade, têm criado sombras negras sobre o nosso futuro.

É assim oportuno recordar que as MPME (Micro, Pequenas e Médias Empresas) são mais de 330 mil (99,5% do conjunto de sociedades do sector não financeiro) e que o emprego nas MPME se situou em cerca de 75% do total, relembrando-se também que as Médias Empresas têm vindo a demonstrar um relevante e crescente desempenho nas nossas exportações.

Assim, uma vez que há opiniões contraditórias sobre a disponibilidade de crédito bancário para empresas, dos valores das taxas de juro, e da existência de projectos empresariais credíveis, seria desejável a concretização de um congresso em que em prazo curto as principais Associações empresariais (nomeadamente as representantes das MPME) e a Banca esclarecessem as dúvidas existentes, pois o desânimo que se sente, em particular nos desempregados, nos trabalhadores precários, e nos que pensam recorrer à emigração, requer acções urgentes para que se possam abrir horizontes a um país que acreditou que a democracia e a vivência europeia corresponderiam aos propósitos de esperança que se desenharam nas últimas décadas.

24.Março.2013.