domingo, 26 de maio de 2013

Confiança e investimento. ("Ponto de vista")

Moeda, confiança, crédito, bancos, investimento, crescimento, sustentabilidade: este conjunto de palavras está associado ao sentimento de crise financeira e económica que perpassa por muitos países, e aos quais diversos Estados-Membros da União Europeia não estão incólumes, em particular e de forma mais acentuada alguns da Zona Euro.

A noção de moeda pressupõe a existência de haver confiança em que podemos trocar de produtos e serviços de modo instantâneo e perdurável, e que com maiores ou menores flutuações do respectivo valor pode ser objecto de câmbio com a existente noutros Estados.

Porém tal noção, intimamente ligada ao conceito de soberania, começa nalguns Estados da Zona Euro a suscitar dúvidas em muitos cidadãos que devido à crise financeira e económica  não se reconhecem na estrutura política que determinou e sustenta a adopção de tal moeda, dando origem a reflexões públicas que preconizam o regresso a moedas nacionais.

Se bem que esta questão esteja circunscrita a uma percepção de curto prazo, na medida em que a moeda é determinante num sistema de trocas imediatas, é obviamente indissociável das perspectivas relativas ao futuro, ou seja no que respeita à crença de que se poderá trocar o nosso tempo de trabalho, a um prazo mais alargado, por produtos e serviços de que necessitemos em termos mais imediatos : trata-se de acreditar que o modelo social, económico e político o permitirá - ou seja, haver crédito em que tal possa suceder.

Assim, quando depositamos os nossos valores e em particular a moeda nos Bancos confiamos - acreditamos - em que farão o seu melhor para que, emprestando-o a outrem em que acreditam que poderão fazer aumentar o seu valor - ou seja, investindo-o - nos retribuam posteriormente tais depósitos com um valor aumentado - ou seja, fomentando o crescimento - e que guardem um lucro que seja considerado aceitável devido aos riscos assumidos.

Procedimento análogo ocorre quando investimos em acções de uma empresa, ou quando emprestamos directamente valores a alguém, acrescendo que acreditamos que tais procedimentos possam ocorrer de um modo sustentado e sustentável pelo menos durante algumas dezenas de anos.

Porém todo este mecanismo assenta numa ideia básica: a de que acreditamos em que tal suceda agora e no futuro, que se creia - que haja crédito - na moeda, que exista confiança para se proceder a investimentos, e que não haja dúvidas sobre a solidez dos Bancos, para que deste modo possa haver expectativas de crescimento duradouro.

Contudo todo este conjunto está associado à noção de movimento, pois uma vez perdido ou abalado um sistema de confiança mútua o tempo de recuperação pode ser excessivamente longo, sucedendo o mesmo que ocorre quando se deixa de pedalar numa bicicleta e se tenta retomar a velocidade precedente.

É por todas estas razões que na União Europeia não se devia ter deixado de procurar fomentar o investimento empresarial (em particular através do BEI) em paralelo com as correcções dos desequilíbrios orçamentais.

É por estas razões que embora algo tardiamente se ouve agora em Portugal falar de investimento em PME's - quer pelo BEI, quer pelo Banco alemão de investimento,  susceptíveis de mais rapidamente colmatarem o grave desemprego existente e proporcionarem condições de regresso ao crescimento susceptível de minorar - com a renegociação dos juros - a enorme dívida existente.

26.Maio.2013.