domingo, 2 de junho de 2013

Um espírito europeu. ("Ponto de vista")

Um espírito europeu.

Regresso ao tema que abordei há algumas semanas, mencionando então que não foi por acaso que os primeiros Encontros Internacionais de Genebra, realizados em 1946 quando ainda estavam quentes as cinzas do terrível conflito que marcou o início de uma nova era no Mundo, foram precisamente dedicados ao tema "Espírito Europeu", vindo a influenciar os passos que pouco depois se deram e estiveram na origem de instituições europeias que procuravam assumir um papel que corrigindo as perspectivas colonizadoras que tinham caracterizado até então a intervenção de diversas nações europeias no mundo procurasse ao mesmo tempo demonstrar a nobreza de um pensamento que afirmasse os princípios da democracia e da igualdade.

Talvez não tenha sido também por acaso que os passos que se deram cerca de dez anos depois visando a construção de uma união europeia acabaram por reflectir as naturais dificuldades que resultavam de não ser fácil identificar a existência de um "espírito europeu" comum a tantas nacionalidades, culturas e estados, pelo que se optou pela perspectiva de se dar prioridade à construção de um mercado comum visando em primeiro lugar reduzir as possibilidades de confrontos militares, em vez de se iniciar desde logo um caminho de uma Europa sem fronteiras que fomentasse o intercâmbio do pensamento e permitisse então uma melhor percepção de um espírito europeu - este então capaz de abrir caminho para uma União Europeia mais sólida, e de se apresentar ao resto do mundo como um farol no caminho para a democracia e liberdade política.

É certo que grande parte do resto do mundo, não o esqueçamos, não deixa de recordar o papel que diversos estados europeus tiveram nos últimos cinco séculos, impondo a sua presença militar à grande maioria das nações, em que genocídios e escravatura não deixaram de marcar presença, e digladiando-se ao mesmo tempo na Europa em ferozes confrontos que de modo nenhum poderão ter constituído exemplo, conflitos esses em que foi relevante o papel de ditaduras e de posições de natureza étnica e confessional que ainda há poucos anos observámos nos Balcãs e em outras áreas da Europa.

E, contudo, sentimos que há um "espírito europeu" latente na grande maioria dos nossos cidadãos, assente em valores de tolerância, de fraternidade, e de liberdade política, sem cujo aprofundamento será difícil solidificar a actual União Europeia.

Não poderemos porém deixar de dizer ao mundo que lamentamos os aspectos negativos dos contactos que com outras nações e povos mantivemos, e que estamos empenhados em contribuir para que num globo cada vez mais interdependente se imponham os valores que defendemos.

Sem que tal "espírito europeu" esteja mais presente nos nossos pensamentos, os dirigentes
da União Europeia - nomeadamente os futuros - dificilmente poderão tirá-la da situação pantanosa em que se encontra.

Cabe aos pensadores, e aos cidadãos em geral, reflectirem publicamente sobre estas questões, pois sem a consciência desse espírito não haverá uma Europa, mas apenas um continente europeu.

Portugal, donde partiram as primeiras caravelas, e que foi o último império a terminar a colonização política, poderá iniciar um encontro europeu para debater estas matérias. Onde ?

No simbolismo de Sagres.

2.Junho.2013.