Decorridos
já alguns anos sobre acontecimentos quie moldaram as relações entre os
principais responsáveis pela vida política portuguesa é possível tirarem-se
algumas ilações sobre o respectivo comportamento e conclusões sobre as
respectivas consequências na governação.
O
Presidente da República tem vindo a demonstrar traços de uma personalidade
desconfiada e insegura, refugiando-se em formalismos e evitando a verdadeira
comunicação, como o comprovaram as atitudes tomadas aquando dos aspectos
relacionados com a questão do Estatuto da Região Autónoma dos Açores e a
inconsistência revelada pelo caso das "escutas", culminando nos
episódios que estiveram na origem da queda do Governo.
Nestes,
é difícil acreditar que o Presidente desconhecesse que estava a ser preparado
um programa de recuperação do equilíbrio financeiro e orçamental (o famoso PEC
IV), pois os contactos que a sua Casa Civil certamente manteriam quer com
estruturas governamentais quer com a Comissão Europeia teriam sido suficientes
para que numa das reuniões semanais com o Primeiro-Ministro lhe suscitar
frontal e lealmente a abordagem de tal assunto, evitando assim que corressem
informações segundo as quais desconheceria totalmente as diligências do
Governo, inclusivamente junto da Chanceler alemã.
Por
seu turno, o Primeiro-Ministro demonstrou arrogância em quase todos estes
casos, pois o das "escutas" - que marcou o fim da cooperação
institucional por parte do Presidente - teria sido resolvido com uma conversa
franca em que se demonstraria, e desmontaria, a existência de pequenas intrigas
entre gabinetes, e o assunto de Estado que o PEC IV constituia deveria ter sido
objecto de trocas de impressões com o Presidente.
A
teimosia revelada pelo Primeiro-Ministro em não ter procurado uma fórmula
governativa que lhe permitisse a execução do programa financeiro sem recurso ao
FMI e apenas com o apoio das Instituições da União deu por seu turno origem a
um processo que acelerou de forma quase irreversível o problema das dívidas
soberanas, com consequências sobre a credibilidade do Euro, e que teria
possibilitado uma resolução circunscrita ao assunto das finanças gregas.
Por
outro lado, a ambição desmedida revelada pelo Presidente do Partido
Social-Democrata em querer o poder a todo o custo sem curar de saber se
dispunha de estruturas políticas sólidas e consolidadas que pudessem
ultrapassar as dissensões evidentes no processo que o tinha levado à conquista
do poder partidário, ambição essa aliada a um calculismo que o levou a negar a
existência de contactos ao mais alto nível sobre a existência do PEC IV, acabou
por contribuir para o paradoxo de ter que vir a executar um programa de governo
baseado num Memorando que em muito colhia do programa que tinha rejeitado no
Parlamento e que levara à queda do Governo.
Finalmente,
autismo e vaidade. De quem ? Não é difícil deduzir que se trata das
características do Presidente do Centro Democrático e Social, que não hesita em
tomar decisões sem consultar os orgãos partidários, e sempre revelando um
desejo de sobressair custe o que custar - mesmo que tal tenha o ónus de muitos
milhares de milhões de Euros que recairão sobre os bolsos dos portugueses.
Não
é assim difícil deduzir o modo como evoluirá a presente crise política...
Calculismo
e ambição em doses excessivas, eis o que infelizmente nos esperará até que uma
profunda modificação (não disse "revisão"...) constitucional venha a
permitir escolhas mais sãs por parte dos portugueses.
7.Julho.2013