domingo, 7 de julho de 2013

Personalidade e política ("Ponto de vista").

Decorridos já alguns anos sobre acontecimentos quie moldaram as relações entre os principais responsáveis pela vida política portuguesa é possível tirarem-se algumas ilações sobre o respectivo comportamento e conclusões sobre as respectivas consequências na governação.
O Presidente da República tem vindo a demonstrar traços de uma personalidade desconfiada e insegura, refugiando-se em formalismos e evitando a verdadeira comunicação, como o comprovaram as atitudes tomadas aquando dos aspectos relacionados com a questão do Estatuto da Região Autónoma dos Açores e a inconsistência revelada pelo caso das "escutas", culminando nos episódios que estiveram na origem da queda do Governo.
Nestes, é difícil acreditar que o Presidente desconhecesse que estava a ser preparado um programa de recuperação do equilíbrio financeiro e orçamental (o famoso PEC IV), pois os contactos que a sua Casa Civil certamente manteriam quer com estruturas governamentais quer com a Comissão Europeia teriam sido suficientes para que numa das reuniões semanais com o Primeiro-Ministro lhe suscitar frontal e lealmente a abordagem de tal assunto, evitando assim que corressem informações segundo as quais desconheceria totalmente as diligências do Governo, inclusivamente junto da Chanceler alemã.
Por seu turno, o Primeiro-Ministro demonstrou arrogância em quase todos estes casos, pois o das "escutas" - que marcou o fim da cooperação institucional por parte do Presidente - teria sido resolvido com uma conversa franca em que se demonstraria, e desmontaria, a existência de pequenas intrigas entre gabinetes, e o assunto de Estado que o PEC IV constituia deveria ter sido objecto de trocas de impressões com o Presidente.
A teimosia revelada pelo Primeiro-Ministro em não ter procurado uma fórmula governativa que lhe permitisse a execução do programa financeiro sem recurso ao FMI e apenas com o apoio das Instituições da União deu por seu turno origem a um processo que acelerou de forma quase irreversível o problema das dívidas soberanas, com consequências sobre a credibilidade do Euro, e que teria possibilitado uma resolução circunscrita ao assunto das finanças gregas.
Por outro lado, a ambição desmedida revelada pelo Presidente do Partido Social-Democrata em querer o poder a todo o custo sem curar de saber se dispunha de estruturas políticas sólidas e consolidadas que pudessem ultrapassar as dissensões evidentes no processo que o tinha levado à conquista do poder partidário, ambição essa aliada a um calculismo que o levou a negar a existência de contactos ao mais alto nível sobre a existência do PEC IV, acabou por contribuir para o paradoxo de ter que vir a executar um programa de governo baseado num Memorando que em muito colhia do programa que tinha rejeitado no Parlamento e que levara à queda do Governo.
Finalmente, autismo e vaidade. De quem ? Não é difícil deduzir que se trata das características do Presidente do Centro Democrático e Social, que não hesita em tomar decisões sem consultar os orgãos partidários, e sempre revelando um desejo de sobressair custe o que custar - mesmo que tal tenha o ónus de muitos milhares de milhões de Euros que recairão sobre os bolsos dos portugueses.
Não é assim difícil deduzir o modo como evoluirá a presente crise política...
Calculismo e ambição em doses excessivas, eis o que infelizmente nos esperará até que uma profunda modificação (não disse "revisão"...) constitucional venha a permitir escolhas mais sãs por parte dos portugueses.

7.Julho.2013