domingo, 28 de julho de 2013

Anos perdidos. ("Ponto de vista")


A recente crise política - decretada "resolvida" quiçá para reaparecer aquando da preparação do orçamento para 2014 - veio confirmar alguma falta de qualidade dos actores que nela desempenharam os principais papeis: A.Silva, P.Coelho, V.Gaspar, P.Portas, e A.Seguro, e demonstrar que A.Silva teve responsabilidades determinantes na inacção que permitiu o paradoxo de a formação política que esteve na base da elaboração do "Memorando de entendimento" para a concessão de "assistência financeira" à República viesse a estar ausente do processo de execução respectivo.

Tal demonstração é confirmada pela atitude tomada no início do corrente mês, em que procurou envolver aquela formação num acordo que afinal já deveria ter ocorrido após as eleições de 2011, afastado que tinha sido o principal adversário político de A.Silva: J.Sousa.

Há dois anos A.Silva ainda teria alguma capacidade política para promover um entendimento inter-partidário que se consubstanciaria num programa de governo em que para além do "Memorando" figurasse um pilar notoriamente ausente, que só foi "descoberto" muito recentemente e que consta da carta de demissão de V.Gaspar como "a fase do investimento ! " visando o desenvolvimento e a redução do desemprego, em particular do "desemprego jovem".

Certamente A.Silva, que frequentemente invoca a sua qualidade de economista, estaria já consciente das enormes dificuldades de que se revestiria a preparação do orçamento para 2014, pois na primeira parte do ano ainda a República estaria apoiada pelo Programa de Assistência Financeira, com parâmetros conhecidos, não se dispondo talvez e porém de elementos que permitam perceber se na quase inevitável situação de impossibilidade de "regresso  aos mercados" em condições aceitáveis se poderá recorrer a um sucedâneo que - de modo cautelar ou afoito ... - assegure a probabilidade de sustentação do Estado e a permanência na zona Euro.

Sabe-se lá se desconhecedor do facto de o seu Governo estar a funcionar há vários meses com um Ministro das Finanças demissionário (e continuando o seu papel de missionário), "agarra" a crise política para tentar tardiamente uma solução que lhe escapou, e que já deveria ter tentado - dentro do quadro de referência mental e política em que se tem movido - há dois anos.

Por outro lado, os actores P.Coelho, P.Portas e A.Seguro têm vindo a demonstrar o quão doente está o modelo político português, aparentemente tão constitucionalmente inexpugnável, pois a maioria dos partidos políticos continua anquilosada e distante do povo, prevalecendo a ausência de debate interno e o papel dominante dos seus principais dirigentes.

O dia em que o sistema democrático se aperfeiçoará a partir de uma maior participação de base está aparentemente longínquo. Até lá, será que resistiremos ?

28.Julho.2013.